segunda-feira, 14 de outubro de 2013

POESIAS DE OUTUBRO - DIA 14




Canção do Exílio 

(Murilo Mendes)

“Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo à prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade! “




 Murilo Mendes (1901-1975) foi poeta brasileiro. Fez parte do Segundo Tempo Modernista. Recebeu o premio Graça Aranha com seu primeiro livro "Poemas". Participou do Movimento Antropofágico, revelando-se conhecedor da vanguarda artística européia.Em 1930, lança seu primeiro livro "Poemas". A poesia da geração de 30 teve grande preocupação social. A poesia de Murilo Mendes analisa o destino do ser humano como um todo.O autor fazia parte de um grupo que, na década de 30, encontrou no cristianismo o refúgio para as crises política e ideológica pela qual o mundo passava. Dessa forma, esse conjunto de escritores da segunda geração moderna era chamado de espiritualista. Além de Murilo Mendes, fizeram parte desse grupo: Vinícius de Moraes e Cecília Meireles. Contudo, essa fase religiosa continuava agregada à realidade social e era um pressuposto para trazer o catolicismo mais voltado aos problemas sociais.
No poema acima ele parodia "minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá..."
No poema abaixo seu espírito crítico-social transforma em tragicomédia um fato corriqueiro de amoralidade como indício cultural.




Gilda


( Murilo Mendes )

Não ponha o nome de Gilda na sua

filha, coitada, Se tem filha pra

nascer Ou filha pra batisar. Minha

mãe se chama Gilda, Não se casou
com meu pai. Sempre lhe sobra

desgraça, Não tem tempo de

escolher. Também eu me chamo

Gilda, E, pra dizer a verdade Sou

pouco mais infeliz. Sou menos do

que mulher, Sou uma mulher

qualquer. Ando à-toa pelo mundo.

Sem força pra me matar. Minha

filha é também Gilda, Pro costume

não perder É casada com o espelho

E amigada com o José. Qualquer dia

Gilda foge Ou se mata em Paquetá

Com José ou sem José. Já comprei 

lenço de renda Pra chorar com

mais apuro E aos jornais telefonei.

Se Gilda enfim não morrer, Se Gilda

tiver uma filha Não põe o nome de

Gilda, Na menina, que não deixo.

Quem ganha o nome de Gilda Vira

Gilda sem querer. Não ponha o

nome de Gilda No corpo de uma

mulher.





QUEM AINDA NÃO RECEBEU INFORMAÇÃO SOBRE O MOVIMENTO MODERNISTA BRASILEIRO, A SEMANA DE ARTE MODERNA NO BRASIL, OS PRINCIPAIS ARTISTAS DESSA FASE EM TODAS AS ÁREAS DAS ARTES PODE E DEVE FAZÊ-LO. É HISTÓRIA DO BRASIL, NA SUA MAIS PURA ESSÊNCIA. É A VIDA EM TRANSFORMAÇÃO NUMA FASE - ANOS 20 - MUITO RICA EM TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS, POLÍTICAS, ECONÔMICAS E ARTÍSTICAS. O INSTRUMENTO DE BUSCA GOOGLE, COMO SEMPRE, SER-LHE-Á VALIOSO GUIA NESSA IMPORTANTE APRENDIZAGEM. NÃO SÓ PELA LITERATURA O BRASIL ENTROU PARA A MODERNIDADE.  ATRAVÉS DESSE GRUPO DE INTELECTUAIS A MÚSICA, AS ARTES PLÁSTICAS, A PINTURA, A ARQUITETURA BRASILEIRAS SAÍRAM DO MARASMO DE REPRODUÇÃO EUROPEIA PARA FINALMENTE TRAÇAR AS PRÓPRIAS TRILHAS CULTURAIS. É CONHECIMENTO FUNDAMENTAL A TODO BRASILEIRO ANTENADO !


SE VOCÊ QUISER PASSEAR PELOS POSTS DESTA SÉRIE É SÓ CLICAR NO MENU À ESQUERDA EM "GAVETAS TEMÁTICAS". A GAVETINHA "POESIAS DE OUTUBRO". VAI LEVAR-LHE EM PASSEIO POR ELES, UM ATRÁS DO OUTRO, ATÉ CHEGAR NO PRIMEIRO !

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A D O R O O O...OBRIGADA !