sexta-feira, 17 de outubro de 2014

NÃO FEDE NEM CHEIRA ?





IMORTALIZOU-SE...






IMORTALIZARAM FERREIRA GULLAR

QUEM FALOU QUE NÃO HAVIA VAGA


PARA ELE?




Não há vagas

O preço do feijão não cabe no poema.
O preço do arroz não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás, a luz o telefone

a sonegação do leite
da carne, do açúcar, do pão.
O funcionário público não cabe no poema
com seu salário de fome, sua vida fechada
em arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabem no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira



( Ferreira Gullar )

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